quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Lucrécia ganha destaque no G1

Escolaridade, e não renda, determina adesão à internet no país, diz Ibope Acesso é maior em casas com chefes de família com ensino superior.Pesquisa também encontrou municípios que fogem da média nacional.
 
A escolaridade influencia mais na adesão à internet em um município brasileiro do que a renda média da população. De acordo com o estudo Target Group Index, realizado pelo Ibope, em famílias de igual renda, a presença da internet é maior quando uma pessoa tem mais escolaridade.
 
 Entre as famílias com renda mensal de R$ 300 a R$ 600, por exemplo, a adesão à internet é de 10% entre as quais o chefe do domicílio é analfabeto ou tem apenas instrução primária. Já nas casas com essa mesma renda, mas com um membro da família com ensino superior, a penetração da internet chega a 50%.

A pesquisa Target Group Index avaliou o comportamento de consumo de 20 mil pessoas entre 12 e 75 anos. O estudo foi feito de fevereiro de 2011 até o mesmo mês de 2012 em dez regiões metropolitanas do Brasil e cidades com mais de 50 mil habitantes do Sul e Sudeste, que apresentam uma melhor infraestrutura de acesso à internet.

Conforme José Calazans, analista do Ibope, a pesquisa foi aplicada em cidades maiores, pois elas sofrem menos influência da infraestrutura. “Quando a infraestrutura é eficiente, a influência da escolaridade fica mais clara”, explicou.

Dados do Censo

 Para comprovar a influência da escolaridade no acesso à internet no Brasil, o Ibope aplicou esse conhecimento sobre todos os municípios por meio dos dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa concluiu que quanto maior for a renda e a escolaridade da cidade maior será a penetração da web. Segundo Calazans, a cada R$ 50 acrescentados à renda média da população do município, cresce um ponto percentual o índice de adesão à rede.

No entanto, o Ibope encontrou cidades que fogem da média nacional – apesar de renda ou escolaridade baixa, a penetração à internet é maior do que a esperada. Municípios pequenos do Nordeste conseguem ter um acesso à web maior do que seus vizinhos pela população mais escolarizada, conforme a pesquisa. Essas cidades têm como principal característica a presença de uma universidade próxima.
 
Um exemplo é Lucrécia (RN), distante 290 km de Natal. Pela renda média (R$ 673 por família), a cidade deveria ter 13% de suas casas com internet. Porém o acesso chega a 15% dos domicílios. Segundo dados do Censo 2010, 65% da população de Lucrécia não têm instrução, enquanto 5% já concluíram a faculdade.

Internet via rádio
Primeiro da família a ter curso superior completo, Wellisson Costa, de 24 anos, acessa a internet todos os dias da casa onde mora em Lucrécia. Filho de trabalhadores rurais, ele comprou seu primeiro computador em 2010 para fazer pesquisas para a faculdade. Wellisson se formou em março de 2012 na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), na unidade de Patu (RN), a 30 minutos de Lucrécia.
Wellisson, de 24 anos, comprou seu primeiro computador em 2010 para a faculdade (Foto: Arquivo Pessoal)
Logo depois de adquirir o netbook, ele contratou um plano de internet de R$ 50 em conjunto com uma vizinha. “Não é das melhores, mas quebra o galho. Como a internet é via rádio, tem muita interferência à noite ou durante o dia quando chove”, disse Wellisson, que deixou de morar com os pais quando entrou para a faculdade.

“Minha família sempre me incentivou a estudar. Meus pais moram em outra casa numa zona rural. Fui morar com meus avós porque era mais fácil para ir para a faculdade”, conta. O pai de Wellisson é analfabeto e a mãe estudou apenas até a 4ª série do ensino fundamental. Na casa dos avós moram também outros familiares. A renda é de dois salários mínimos para 13 pessoas. Ele é o único que usa o computador e acessa o Facebook diariamente.

Hoje, Wellisson está desempregado, mas, desde que começou a estudar, trabalha na área da educação. “Não tenho nada fixo, mas faço alguns trabalhos às vezes, como substituir um professor”, conta. Wellisson comprou seu computador com o dinheiro que juntou com uma bolsa do governo. Pagou R$ 1,3 mil à vista pela máquina. Ele conta que Lucrécia é uma cidade muito pequena, com pouca oferta de emprego. “As famílias se mantêm por meio da agricultura e de programas do governo federal”.
 
Influência
Wellisson influenciou o irmão Wandeson Van Alves, de 21 anos, a comprar um computador. Ele mora com os pais na zona rural, mas começou a cursar letras na UERN em 2010 e viu a necessidade de ter um PC. Três meses depois de entrar na faculdade, o pai de Wandeson, que ganha um salário mínimo, comprou um netbook para ele.

Durante alguns meses, o estudante usava a máquina apenas para trabalhos acadêmicos. Porém, há 7 meses, resolveu comprar um modem da única operadora na região para se conectar à rede. "Quando preciso fazer algo mais pesado, que exige mais da internet, como baixar vídeos, eu uso o computador do meu irmão", conta Wandeson, que ganha R$ 200 em uma bolsa da faculdade. "Uso o chip do meu celular pré-pago para acessar a internet pelo computador. Pago R$ 0,50 por dia".

Wandeson tem perfil no Facebook há 3 anos e gosta de visitar portais de notícias, blogs e checar e-mails. "Quando coloco crédito no chip, acesso a internet todos os dias. Gasto cerca de R$ 15 por mês". O estudante conta que quando chega o inverno, a internet fica muito ruim por causa da chuva. "A página do Facebook demora uns 5 minutos para abrir", disse. Os pais nunca usam o seu computador. Quando eles precisam de algo que o PC pode ajudar, Wandeson faz para eles.
 
Fonte: Portal G1

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