sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Dedo de Deus - Armando Freitas Filho

Dia de verão rasgado
passado a ferro
com o punho do coração
de carne, fechado
batendo no céu da boca.
Ficar e fruir sem filtro
chupando do outro corpo
pela sua mufa
todo o calor e o sal
enquanto escrevo sem alvo
sobre o mesmo mar de Camões.
Monotonia, pico, planície.
De Chiricos e espíritos
recortados ao arrepio do sol
sem a dúvida de uma única nuvem.

O vento apura a montanha
tenta aperfeiçoar o mar
a onda, a ode, e estátua
que não se inventa
só com o desejo
de um pedra cega.
Nada na água pára
e na terra que gira:
soluça sem solução
em perpétuo empate
- cara a cara, zero a zero -
com seus perfis casuais
de esfinges, climas
que têm o mesmo instinto
tempo de vida, ânsia
ou substância.
Distantes testemunhas
indiferentes e oculares
de dois lagos que não piscam
sem a pedra/sem a luz
sem o ponto final da lua.



Armando Freitas Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1940. Recebeu em 1986, com o livro 3X4, o prêmio Jabuti, e em 2000, com o livro Fio Terra, o prêmio Alphonsus de Guimarães. Publicou recentemente o livro 'Dever' com poemas escritos entre 2007 e 2013.

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