domingo, 21 de março de 2010

Henrique espera resposta do TSE para decidir rumo do PMDB em 2010





Partido aguarda aval da corte eleitoral para saber com quem poderá coligar-se; Deputado diz que momento da candidatura própria "já passou".

O deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB) afirmou que espera obter uma resposta à consulta que fez ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a questão das coligações proporcionais em, no máximo, 15 dias. Para ele, como há dúvidas na interpretação da resolução da corte eleitoral sobre a formação dessas alianças, é preciso buscar “a verdade verdadeira”.

O PMDB, segundo confirmou o deputado, não vai fazer coligação com nenhuma candidatura majoritária no Rio Grande do Norte. Isso porque o próprio Henrique e o senador Garibaldi Filho, as duas maiores lideranças da legenda, não chegaram a um consenso sobre que candidatura apoiar. Henrique está empenhado na candidatura do vice-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), mas Garibaldi declarou voto na senadora Rosalba Ciarlini (DEM).

A prioridade do partido – continuou o deputado – é a eleição de Garibaldi ao Senado. O PMDB espera que, ao não se coligar na majoritária, fique livre para fazer coligações proporcionais com partidos diversos, mesmo que essas outras legendas estejam coligadas com majoritárias distintas.

Henrique e o deputado federal João Maia chegaram a firmar um pré-acordo para que o PMDB e o PR estejam juntos na proporcional, mas o acerto definitivo depende ainda da resposta do TSE.

O PR também protocolou uma consulta no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para esclarecer a dúvida. O Ministério Público Eleitoral deu parecer contrário à consulta do PR, alegando que as coligações proporcionais devem obedecer à lógica das majoritárias: um partido só pode coligar-se com outro que integre a mesma coligação majoritária. A expectativa, agora, é para a decisão do TRE, que ao que tudo indica deverá ser em concordância com a corte superior.

Henrique disse que não há hipótese de o PMDB sair sozinho nas eleições, descartou uma candidatura própria alegando que o tempo para isso já expirou e pontuou que, caso a decisão do TSE seja desfavorável, alguma solução terá que ser encontrada.

Durante a entrevista concedida ao jornalista Diógenes Dantas na TV Nominuto, na última sexta-feira (19), Henrique comentou sobre a situação do PMDB do RN, a disputa pelo controle do PP, a sucessão estadual e a sucessão presidencial.

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista:

Diógenes Dantas: O que os advogados dizem sobre essa questão das alianças do PMDB?

Henrique Alves: Tem advogado para todas as teses. O Direito permite, no papel, interpretações variadas. Então, não adianta você ficar brigando com os fatos, com as notícias. Como tem interpretações diferentes e fatos noticiados diferentemente, eu achei melhor fazer uma consulta – já fiz ontem [quinta-feira, 18] – ao TSE, colocando o caso específico do Rio Grande do Norte, o que é que vai acontecer. Nós temos um candidato a senador, mas não temos coligação na majoritária e queremos nos coligar com outros partidos que tem coligações em majoritárias diferentes, para saber o que pode e o que não pode. Então, não adianta, cada dia com a sua agonia. Vamos aguardar, com muita tranquilidade, a palavra do TSE. Eu acho que posso obter em 15 dias uma definição e, a partir, tomar uma decisão de acordo com a realidade, com o que a lei mandar e assim decidir o Tribunal Superior Eleitoral.

Diógenes Dantas: O advogado do PMDB é um dos especialistas em Direito Eleitoral, que é o doutor Paulo de Tarso Fernandes. Qual é o entendimento que os senhores, Henrique e Garibaldi, têm hoje?

Henrique Alves: Garibaldi eu ainda não sei. Paulo acha que não há nenhum impedimento, não há coligação na majoritária e, portanto, está liberado para coligar com outros partidos que estejam coligados com outras chapas majoritárias, segundo o entendimento dele. Mas como há outros que eu respeito muito, como Erik [Pereira] e o próprio parecer do procurador eleitoral daqui [Fábio Venzon], eu achei melhor buscar a verdade verdadeira do Tribunal Superior Eleitoral. Vamos decidir com segurança, não só em relação ao PMDB, como aos outros partidos. Eu não gostaria que nenhum partido da base não estivesse coligado com Iberê [Ferreira de Souza, vice-governador e pré-candidato a governador pelo PSB]. Eu defendo que se coliguem também. Estamos lutando em relação ao PP por ser da base de Lula, ao PR de João Maia. Eu quero que todos se coliguem com Iberê, que é a coisa natural, mas tem que ver também a possibilidade de se coligar com o PMDB na proporcional. Então é aguardar essa decisão daqui a 15 dias e aí tomaremos a decisão que for correta de acordo com a lei a ser interpretada pelo TSE.

DD: Pelo entendimento que você tem hoje juntamente com Garibaldi, como é que a coisa vai funcionar, na majoritária, por exemplo?

HA: Na majoritária o PMDB não terá coligação alguma. Garibaldi vai ter uma posição diferente da minha, que eu respeito e ele respeita a nossa. Até porque eu tenho uma ligação com o governo muito mais próxima que Garibaldi, pela posição que eu exerço como líder do maior partido da base do governo do presidente Lula. Então, não teria sentido eu estar coligado aqui com o partido que tem o maior líder de oposição ao governo do presidente Lula. Como é que seria a nossa convivência no palanque? Seria uma coisa não verdadeira, seria uma coisa falsa, acomodada, clandestina. Ele atacando Lula, eu não iria aceitar, seria uma coisa muito desagradável. Então, por coerência, já que eu sou do governo Lula, meu partido é da base principal do governo Lula, eu não teria como aqui agir diferente. Eu falei com Garibaldi, ele entendeu. Eu compreendi as afinidades dele com Rosalba no dia-a-dia do Senado e fizemos um acordo de cavalheiros.

DD: Isso não lhe causa constrangimentos em Brasília?

HA: Causa aqui no coração, no íntimo.

DD: Mas diante da sua condição com Lula de líder do PMDB?

HA: Não, eu expliquei. As pessoas entendem que Garibaldi em muito querido, muito respeitado em Brasília, no Congresso Nacional. Então, todos entenderam pela relação que eles têm. Rosalba é uma grande companheira dele, foi nossa senadora. É uma questão política que tiveram que entender. Esse é um assunto superado, a eleição de Garibaldi é uma prioridade para o PMDB do Brasil. Dentro das minhas atribuições do partido nacionalmente está fazer o possível e o impossível para eleger Garibaldi – e farei. Então, essa questão está bem resolvida. O constrangimento que eu tenho é que há 40 anos eu faço campanha com Garibaldi, eu não sei fazer campanha sem Garibaldi, sem estar com ele, a nossa convivência, é muito tempo. Pela primeira vez não estarei junto de Garibaldi todos os dias, todas as noites. Isso vai fazer falta emocionalmente à minha campanha. Mas a gente combinou de aqui e acolá “eu lhe sequestro, você me sequestra e agente se encontra”, um dia, dois dias, porque essa convivência me faz muito bem emocionalmente, afetivamente e politicamente.

DD: Então, Garibaldi, sem uma definição de candidato ao governo, vai poder pedir voto para Rosalba Ciarlini e Rosalba vai poder pedir voto para ele na televisão?

HA: Não. Ela não pode aparecer no programa dele. Ele não pode aparecer no programa dela e o fato dele participar da campanha dela e eu da campanha de Iberê, haverá porque não haverá contestação do partido. Eu não vou reclamar contra ele nem ele vai reclamar contra mim. Há um “combinemos” em relação a isso.

DD: Mas isso é diferente do que ele disse aqui para a gente, quando ele veio aqui nesta semana. Ele disse que vai poder fazer referência a Rosalba e ela [fazer referência] a ele.

HA: Ele pode.

DD: Porque senão, não tem graça.

HA: Não. Ela é que não pode participar do programa dele. Não pode ter aparição do programa dela no programa dele. Não pode ter a marca do programa dela no programa dele.

DD: Mas falar “olhe, meu senador é Garibaldi”...

HA: Pode e ele vai poder também, desde que o DEM não reclame lá e o PMDB não reclame aqui, porque se fosse uma coisa muita rigorosa, ao pé da letra, poderia haver alguma reclamação, mas não haverá. Há um “combinemos” em relação a isso. Ele fará para Rosalba, com todo o respeito, eu farei para Iberê, também com todo o respeito.

DD: Mas dependendo do calor da campanha, não poderá haver pressão, por exemplo, do seu candidato, até do seu primo Carlos Eduardo, que também estará disputando o governo do Estado?

HA: Pressão em que sentido?

DD: Pressão por Garibaldi estar pedindo voto para Rosalba, sem poder. A lei permite isso?

HA: Isso é um problema interno do PMDB. Carlos Eduardo vá cuidar do PDT e eu vou cuidar do PMDB.

DD:
Mas em relação a Iberê, se ele reclamar...

HA: Não, há respeito, não existe isso. Não me pressione em nada em relação a Garibaldi que não dá certo. É um respeito que eu exijo, estou fazendo o que posso fazer, mas tem um limite. Tudo que for para prejudicar Garibaldi, não contem comigo.

DD:
Você já deixou isso claro?

HA: Claro. A eleição principal para o partido, aí eu falo como presidente do partido, é a eleição de Garibaldi. Agora, como deputado federal e, portanto, assim me colocando, eu vou lutar pelas candidaturas de Iberê [ao governo] e de Wilma para o Senado. Mas como presidente do partido, falando pelo partido, isso é unidade no partido, a eleição prioritária deste partido todo unido é a de Garibaldi. Eu acho que esse assunto exige todo o respeito, não pensem em fazer em nenhum momento nada que venha a prejudicar, arranhar diminuir a pessoa de Garibaldi. Ele é a eleição mais importante para o PMDB.

DD: Falamos na majoritária, mas como é que a coisa vai se dar na proporcional? Você, nesta semana na imprensa, já falava em aliança com o PR e com o PT. Como é que está a coisa na proporcional?

HA: Eu já conversei com João Maia, nós fizemos um pré-compromisso de uma coligação entre o PMDB e o PR na proporcional. Eu acho que o PP também terminará ficando nesta coligação e a deputada Fátima [Bezerra] quer também uma coligação na federal, estadual não. Para federal ela gostaria de se coligar. Então, se tudo correr bem, se a interpretação for a nosso favor, a tendência é, ouvidos os deputados estaduais, ouvindo a minha decisão, o que for bom para eles também, vamos buscar esses votos, acordado o PMDB, poderemos nos coligar ao PP, ao PT e ao PR.

DD: Dependendo da resolução do TSE, você bem falou aqui que fez uma consulta, caso vocês não tenham condições de fazer o que estão entendendo hoje, quem é que vai ter que abrir para o outro? Você para Garibaldi, ou Garibaldi para você?

HA: Não, se por acaso não puder, difícil imaginar essa hipótese, mas aí algum partido vai ter que não se coligar na majoritária. Se for proibido, por exemplo, eu me coligar com um partido que esteja numa coligação majoritária e eu por ter um senador majoritário diferente, aí vai ter que se encontrar uma solução. O que não pode é a hipótese de o PMDB sair sozinho, porque colocaria em risco não só a nossa eleição, mas os deputados estaduais. Essa hipótese não existe. Uma coligação teremos que ter e teremos.

DD: Você teria que interferir em outro partido. Isso está sendo já conversado também?

HA:
Já, estamos conversando, mas eu achei melhor aguardar. Cada dia com sua agonia, calma, com tranquilidade, muita consciência do que nós estamos fazendo, há muita responsabilidade nesta condução. O deputado João Maia, a deputada Fátima, vou conversar com a governadora, com Iberê logo que ele chegar de São Paulo. Vamos encontrar o caminho com muita tranquilidade. Faremos o melhor para o nosso objetivo e para o Rio Grande do Norte do ponto de vista eleitoral.

DD:
Aqui neste programa o senador Garibaldi Filho falou que, em primeiro lugar, está o PMDB. Caso dê tudo errado aí nesses entendimentos, o que ele acha muito remoto, ele falou até em candidatura própria do PMDB. O que é que você tem a dizer a respeito disso?

HA:
Eu acho que esse momento já passou. Eu acho que a gente podia ter pensado nisso antes, mas não há mais essa possibilidade. Eu vejo só como uma vontade e uma preocupação solidária de Garibaldi, que eu agradeço. Mas eu acredito que a prioridade é estabelecer outro tipo de coligação que venha a interessar ao partido como um todo, ao PMDB. Coloco aqui que não é só o meu interesse. Essa decisão passa pelos deputados estaduais, pelos candidatos, que pode interessar a todos. Aí eu tenho que pensar como presidente do partido.

DD: O deputado Robinson Faria, que exerce uma influência sobre o Partido Progressista, apesar de presidir o PMN, chegou a dar declarações de que a sua interferência era uma coisa de ditadura e chegou a lhe fazer a menção de ditador nesse imbróglio do Partido Progressista. Qual é a sua interferência nessa história?

HA: Olha, eu tenho uma amizade tão boa com Robinson, eu gosto tanto de Robinson de longa data, desde o pai dele, é uma ligação muito profunda. Eu não gostaria de entrar nessa discussão com o deputado Robinson. Eu fui surpreendido, eu fiquei até triste com isso, pela amizade que nós temos, que não é só política, é pessoal, afetiva, histórica, aí ele me chama de ditador porque eu estava me metendo no PP. Aí eu tenho o dever de esclarecer, não é responder a ele, porque quando Nélio Dias morreu, com quem ficaria o PP?

DD: Nélio Dias, ex-deputado federal.

HA: É, ele faz uma falta enorme, até hoje estava conosco nessa luta, pela sua clarividência, pela sua correção, Nélio é sempre uma lembrança muito grata.

DD: Era o grande conciliador.

HA: É, na hora, mas brigador.

DD: Na hora dos bastidores.

HA: Na hora da briga, não tinha ninguém melhor que ele. Mas aí quando Nélio faleceu, houve uma grande disputa pelo espólio do PP. Agnelo queria, Fernando Bezerra queria, Iberê queria, todo mundo queria. Aí nessa hora o deputado Robinson, com a amizade que tinha comigo, tem todo o direito de fazer, aí me procurou, me considerou democrata na época, eu fiz a reunião na liderança do PMDB, com todas as lideranças do PP, Negromonte que é o líder da bancada, todos estavam lá. Eu fiz um apelo para que continuasse nessa direção do deputado Robinson, era um aliado nosso, dentro da base do governo Lula. Eu fiz um apelo, foi difícil porque as coisas estavam sendo pressionadas, mas terminou ficando com o deputado Robinson o PP.

DD: Naquela ocasião você foi um democrata?

HA:
Fui prontamente elogiado, bateram palmas, mas eu fiz com muita alegria, porque eu queria que Robinson tivesse o seu fortalecimento dentro de um projeto futuro, que nós estávamos costurando. E num segundo momento, agora mais recente, houve nova investida em relação ao PP. O PP insatisfeito, porque havia o compromisso à época do deputado Robinson ou do deputado Fábio Faria virem para o PP, trazerem um deputado para o PP, Robinson ou Fábio. Eu participei de reuniões com ele e Fábio expôs o risco que corria e eu disse a ele “não venha não”.

DD: Por conta da infidelidade partidária.

HA: É, depois da decisão. Eu disse a eles, são testemunhas disso. Fábio pode confirmar, acho que ele não vai negar. Quando eles me mostraram a situação, eu disse “pode deixar que eu vou explicar, não venha não, você pode correr o risco de ser impugnado, de jeito nenhum, deixe que eu explico a Dornelles, eu compro essa briga por vocês”. E comprei mesmo, quando foram reclamar deles, muitos, porque não veio Robinson, Fábio, ficaram de vir, prometeram. Eu disse que não vieram nem podem vir. Eu não vou expor esses companheiros, lideranças, porque amanhã vocês estão aqui, eles pagam o pato lá. Eu comprei essa briga e disse que eles não viriam e não poderiam vir. Foi a primeira etapa. A segunda etapa foi quando o PP estava quase já no colo do senador Fernando Bezerra por conta disso. Fernando Bezerra com a articulação que até hoje em Brasília, ele esteve com Dornelles, estava praticamente no colo de Fernando Bezerra, com o apoio da governadora Wilma, parece que ela tinha trabalhado também. Aí lá fui eu a Brasília de novo, chamei o PP, estive com Dornelles, com Mário Negromonte, com todo mundo e disse “não aceito, não aceito”. Fui às últimas consequências, radicalizei mesmo, pela ligação que nós temos lá em cima.

DD: Isso no ano passado?

HA: No ano passado, recente. A última reunião foi com Fábio, foi com Robinson, na sala da liderança do PP, quando disseram textualmente, testemunha Fábio, testemunha Robinson, não vão negar, numa sala pequena, não tem como esquecer, disseram: “Olhe, estamos atendendo e o PP vai ficar com você, em atenção ao líder e nosso companheiro aqui, nosso aliado nacionalmente, o deputado Henrique”.

DD: Mais uma vez você foi um democrata?

HA: Mais do que nunca democrata. Agora, a situação mudou. Robinson me considerar ditador?! Eu só sou democrata quando sirvo nessa direção? Quando eu continuo coerente, dizendo que o PP não pode, não deve e não vai se coligar com a chapa oposicionista ao governo Lula.

DD: Você diz não vai. Por que você diz com tanta certeza?

HA: porque é uma questão de coerência, me expondo como estou, deixei de fazer uma luta com Garibaldi que fazia há 40 anos, por uma questão de coerência, como é que eu poderia entender que o PP tão importante quanto o PMDB na base, tem o ministério mais importante do governo Lula – não são os do PMDB, é o do PP, o Ministério das Cidades – , como é que o PP vai dar tempo de televisão à chapa majoritária do DEM, com seu líder de oposição mais radical em relação a Lula. É impossível isso acontecer. Isso não vai acontecer.

DD: Ele está elogiando Lula. O senador José Agripino está elogiando Lula agora. Conhece todos os acertos, disse que houve mais acertos.

HA: Eu respeito José Agripino, sou admirador da sua luta lá em Brasília, faz com competência, eu acho que tenho que registrar isso, mas não há a menor hipótese, pelo bom senso, pela coerência, pelo que eu conheço de Brasília, não há a menor hipótese de o PP dar tempo de televisão à chapa majoritária do DEM e do PSDB.

DD: Então como é que se explica a eleição de Benes Leocádio, que é presidente da Femurn, ligado a Robinson Faria, na presidência do PP? Isso já define o PP no palanque de Rosalba?

HA: Não, até porque quem vai decidir não é a executiva formada, vai ser essa comissão provisória que à época vai se reunir e decidir por maioria de votos com quem coligação vai se comportar, mas já antecipo que não há a menor hipótese, por coerência, por posição nacional, por decisão da executiva nacional, para o PP aqui dar tempo de televisão para bater no governo Lula. O PP não pode dar tempo de televisão, com todo o respeito, ao líder da oposição ao governo Lula, à candidata de oposição, Rosalba, com todo o respeito, é oposição ao governo Lula. Vão fazer uma campanha de oposição contra o governo Lula. No PP não há essa menor hipótese, pelo que eu conheço de Brasília, dos políticos do PP, da correção do PP, da coerência do PP. Essa eleição que fizeram ontem [quinta-feira, 18] não tem o menor valor, não tem valor jurídico. O estatuto manda dizer que quando renuncia o presidente por qualquer razão a executiva nacional é quem indica o novo presidente. Não respeitaram o estatuto, fizeram uma eleição que não vale nada, de brincadeira. Não vale coisa nenhuma, vai ser desmanchada qualquer hora dessa.

DD: A executiva nacional do PP tomou conhecimento da eleição?

HA: Eu falei com Dornelles. Ele ficou surpreendido, violaram o estatuto, não vale nada. O PP nacional já sabe que não tem nenhum valor político essa eleição que foi feita. Não é esse o encaminhamento que o estatuto dá. O estatuto diz que quando há afastamento do presidente por qualquer razão, Pepeu [Pedro Lisboa, prefeito de Lajes] saiu, quem indica o novo presidente da comissão provisória é a executiva nacional. Desconheceram isso e fizeram uma eleição de brincadeira, com os prefeitos, Alberto Patrício, prefeito de Alexandria, meu correligionário, Benes, que vai votar em mim para deputado federal, eu respeito muito, adoro Benes, mas essa eleição que foi feita não tem a menor validade jurídica, não vale coisíssima alguma. A executiva nacional deverá indicar nos próximos dias um presidente da comissão provisória do PP, atendendo portanto o que manda o estatuto.

DD: Diante das últimos discussões, nós temos aí um cenário com três candidaturas competitivas ao Governo do Estado. Temos Rosalba, Iberê e Carlos Eduardo Alves. Dois candidatos na base do presidente Lula. Como é que vai se dar essa coisa na visão do líder do PMDB?

HA: Quando Carlos Eduardo se lançou candidato a governador, eu acho que eu e a deputada Fátima fomos as únicas vozes que viram a coisa como positiva. Eu disse a Carlos Eduardo, ao deputado Álvaro Dias, “eu concordo plenamente com a sua candidatura, que é boa para a base, é mais uma opção para a base do presidente Lula, agora só com cuidado, vocês não vão brigar entre vocês... o adversário não é Iberê, nem o de Iberê é Carlos Eduardo”. Tem um adversário natural, adversário político, sem nenhum radicalismo, radicalismo não constrói para canto nenhum, que é a candidatura oposicionista. Então, conduzindo por esses termos, alinhando em termos do discurso, da prática, de programas em favor do Rio Grande do Norte e do Brasil, eu acho que a candidatura de Carlos Eduardo é uma boa candidatura, eu acho que vai fortalecer e revitalizar o debate democrático e o que chegar ao segundo turno terá um o apoio do outro.

DD: Carlos Eduardo não atropela o candidato que você apóia, Iberê Ferreira de Souza?

HA: Não, pelo contrário. Eu acho que ele ajuda a campanha da base de Lula aqui. Eu sou a favor da candidatura dele. Eu acho que foi um ato correto dele ter sido candidato, se pudesse somar era o ideal na nossa ótica. Já que quis ser candidato é um direito dele, tem um potencial eleitoral respeitável e, portanto, é uma candidatura que, entendendo que o adversário não é Iberê, o adversário é a oposição ao governo Lula e ao governo Wilma, eu acho que ele pode se somar em toda a trajetória e chegarmos juntos para vencermos a eleição no segundo turno.

DD: A presença de Carlos Eduardo nessa disputa, junto com Rosalba e Iberê, é garantia de segundo turno?

DD: Dilma já encosta em Serra na eleição presidencial, segundo as pesquisas. Isso enfraquece ou fortalecer o projeto de Michel Temer de ser vice de Dilma Rousseff?

HA: Fortalece, em relação ao PMDB Temer é o candidato único, não tem outro candidato. Imaginar que alguém vai chegar numa convenção do PMDB com 800 convencionais, vai lançar outra candidatura, não sei como, para derrotar o Temer, eu não vejo a menor possibilidade.

DD: Mas há uma tentativa de convencer e escolher outro nome, como Hélio Costa, o próprio ministro do Banco Central, Henrique Meireles.

HA: Veja bem, Hélio Costa não precisaria convencimento. Se Aécio Neves fosse o candidato a vice, não precisaria nem o governo Lula propor. A iniciativa seria nossa do PMDB de tirar o Michel e colocar o Hélio Costa. Se Aécio vier a ser, pode anotar aí, na chapa agora do dia 10 se for Serra e Aécio, o partido que toma a iniciativa de colocar Hélio Costa é o PMDB. Tranquilamente, porque nós queremos ganhar a eleição. Se Aécio entrasse, que não vai entrar de jeito nenhum pelo que eu ouço dele, o Temer deixa de ser candidato e na mesma hora o candidato passa a ser Hélio Costa por estratégia eleitoral, porque nós queremos que a ministra Dilma ganhe a eleição, queremos ganhar juntos. Agora, não sendo Aécio, o candidato a vice é único, só tem ele, não há outro. Vai ser o presidente Michel Temer.

DD: Isso ficou claro nessas últimas conversas com o presidente Lula?

HA: Dentro do PMDB não há a menor dúvida.

DD: Como é que você o momento do presidente Lula. Ele vai conseguir transferir toda essa preferência, essa aprovação para a ministra Dilma?

HA: Olha, não é transferir, dar, ele está mostrando para o Brasil a importância que ela tem nesse governo tão aprovado. Porque esse governo está sendo tão aprovado, com índices recordes, 75% de bom e ótimo nem Juscelino Kubitschek teve, nem Getúlio Vargas naquela época teve, é recorde na história do Brasil. 83% dos brasileiros apreciam e aprovam a forma como o presidente Lula conduz o governo. 53% dos brasileiros, segundo o Ibope, querem votar no candidato do presidente Lula. 42% não sabem quem é o candidato do presidente Lula. Então, somando esses fatores, na espontânea, sem botar os nomes, 20% votariam em Lula para presidente, 14% votariam na ministra Dilma e 10% no governador Serra. Então todos os indícios de quem conhece pesquisa, eu não conheço, mas estou ouvindo, levam nessa direção, porque o povo está entendendo e Lula vai explicitar que só fez esse governo que está fazendo porque tem uma operadora, uma executiva, uma gerente, uma pessoa capaz, competente para gerir isso que é ela [Dilma]. Então, se o povo quer que esse governo continue, pegue essa pessoa que está fazendo isso ao lado de Lula e dê a ela essa oportunidade. Esse é um discurso verdadeiro, transparente, fácil do Lula fazer. Eu acho que por isso já começa a ministra Dilma a crescer. Mas é uma luta demorada, distante ainda, o candidato José Serra é um grande candidato, um grande governador, estive com eles nesses dias atrás em São Paulo, está muito bem em São Paulo, merece todo o respeito, vamos para o debate das ideias. É aquela história, se o governo está bem, se a economia está bem, se o povo está satisfeito, está havendo salário, está havendo emprego, cultura, se isso está acontecendo, você vai arriscar ou você quer continuar avançando? É um discurso claro. O povo é quem vai dizer “não, eu quero mudar, não está bem, não estou feliz, não estou satisfeito”. Então, mude. Mas estou satisfeito, estou feliz, estou empregado, estou com salário, a agricultura está bem, o país está bem, eu vou continuar. Então, essa vai ser a colocação clara e quem vai decidir é você norte-riograndense, é você brasileiro, é você eleitor.

DD:
deputado Henrique, o Rio Grande do Norte foi surpreendido com a notícia da doença do vice-governador Iberê Ferreira de Souza, que passou por uma cirurgia nesta quinta-feira à noite. Até que ponto a doença de Iberê gera incertezas no quadro político do RN?

HA:
A questão da doença foi detectada muito cedo, muito precoce, me parece que o nódulo é insipiente, menos de um centímetro, foi detectado logo, já retirado, não esperou nem biópsia, tirou logo. As perspectivas são boas, falei com os familiares dele hoje, ele está muito bem, já está falando, conversando, portanto me parece que é um assunto do ponto de vista clínico muito bem encaminhado. Eu acho que a questão aí é mais cabeça de Iberê, que está muito bem, é uma pessoa muito forte. Então eu acho que é uma prova, a gente tem que passar por essas coisas para nos dar mais força ainda para enfrentar as lutas. Iberê vai chegar bem aqui para ser um grande governador neste período e, se Deus quiser, se o povo quiser, se assistir os debates, assistir o confronto de ideias e julgue da melhor maneira possível, Iberê vai ser reeleito governador.

DD: O senhor foi relator da partilha do pré-sal, que causou uma polêmica muito grande porque foi aprovada uma emenda que inclusive muda as regras atuais. Como é que vai ficar essa questão?

HA: Quando o governo mandou o projeto para o Congresso Nacional não falava em royalties, era só a partilha, que é o coração do projeto, mudar da concessão para a partilha. Tirar, portanto, o filé mignon dos empresários, das concessionárias, das grandes petrolíferas que vêm para aqui, explora, descobre, investe, paga direitos e leva o resto, tirar esse pedaço e deixar com o povo brasileiro. O filé mignon, 60%, 70% da descoberta fica para o povo brasileiro. Essa mudança é que é fundamental. É o coração do projeto, foi aprovado por quase três quintos da Câmara dos Deputados. Não mexeu nos royalties, talvez prevendo já essa disputa, mas não conseguiu. A Casa queria mexer, mas como relator eu tive que interpretar a vontade da Casa e mexi. Não ia mexer nos contratos já licitados, só no futuro, mas a Casa quis mexer, eu mexi. Isso aconteceu, mas de repente chega uma proposta que mexeu demais, já nos pós-sal, no antes do pré-sal, de 1996 para cá. Bacia de Santos, por exemplo, que já tem produção com receitas vinculadas a financiamentos do PAC do governo federal, comprometidas. Portanto, não poderiam ter sido mexidas sob quebra de contratos, desorganiza a federação financeira, administrativa e politicamente. Então, foi um erro. Mas aquela Casa faz o que o povo quer e eu como relator tinha que fazer o que o plenário queria, não podia impor a minha vontade. Como todos queriam, eu incorporei essa tese, mas advertindo que eu tinha informação de que o presidente Lula vai vetar essa proposta pelo seu radicalismo.