segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Poder solitário

De Eliane Cantanhêde para Folha

Dizem que o poder é um exercício solitário. Quando as coisas vão bem, nem se nota. Quando vão mal, a solidão é cruel. Com Dilma Rousseff, a premissa tende a ser mais do que verdadeira.



Dilma é uma mulher guerreira, além de aplicada, determinada e parecer genuinamente bem intencionada. Mas o seu forte não é equipe. Ao assumir o Minas e Energia, não trouxe quase ninguém. E assim caiu na lábia de Erenice Guerra, que carregou com ela na mudança para a Casa Civil.



Na campanha, encontrou o time pronto: o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o deputado José Eduardo Cardozo e a eminência parda Antonio Palocci. Não era amiga, nem mesmo próxima, de nenhum deles.



O único nome da sua, digamos, cota pessoal foi o do ex-prefeito Fernando Pimentel, que esfarelou ao se meter com neo-aloprados da quebra de sigilo fiscal.



Eleita, Dilma se vê diante de um onipresente Lula, a quem deve a indicação e a vitória; de um Palocci para quem o céu é o limite; de um Temer zeloso pelos interesses partidários; de um PT inebriado pelo poder; de um PMDB voraz e de dez outros partidos disputando a sua atenção, os seus cargos e a sua caneta. Neles, quantos amigos, ou pelo menos aliados fieis, Dilma tem?



No poder, como na vida, é preciso dispor de um ombro para as horas difíceis, um ouvido confiável, um conselho descompromissado. Alguém para se admitir o que nunca se admite em público e de quem se possa ouvir o que não se quer ouvir. JK, FHC e Lula tiveram.



Dilma faz bem em trazer a mãe e a tia para o Alvorada, como aconchego pessoal, e em manter Giles Azevedo, que a acompanha há 19 anos. Mas é preciso mais.



O seu risco é o isolamento dentro do próprio governo. Enquanto a economia ajudar, tudo será festa. Mas, com qualquer sacolejo, o perigo serão os aliados, que são tantos. Quanto mais, quanto menos